'Erro grotesco', diz tia de mulher morta durante procedimento em clínica

Familiares apontam que falta de estrutura do estabelecimento provocou morte de Amanda da Silva Barros, 30 anos




11/01/2025, 08h38, Foto: Divulgação .


Familiares de Amanda da Silva Barros, de 30 anos, acreditam que ela foi vítima de negligência, ao morrer em um procedimento médico em uma clínica no Centro de São Gonçalo, na Região Metropolitana. A auxiliar administrativa era submetida à aplicação de um balão intragástrico e não resistiu, morrendo no estabelecimento, nesta quinta-feira (9). Parentes estiveram no Instituto Médico Legal (IML) de Tribobó, nesta sexta-feira (10), e pediram justiça. (Leia mais abaixo)


Segundo uma tia, que não quis se identificar, apesar de muito próxima da família, Amanda não contou sobre o procedimento e apenas o marido sabia, mas também foi contra. Familiares souberam da morte da auxiliar por uma tia do companheira que a acompanhava, quando a mulher percebeu a chegada de equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) à Clínica Endoscorpus. (Leia mais abaixo)


A parente relatou que o estabelecimento informou que a vítima sofreu uma parada cardiorrespiratória. "A clínica poderia, sim, ter revertido, mas não tinham estrutura para tal, não tinham profissionais qualificados para tal. Infelizmente, eu não estava lá, porque se ela tivesse me falado eu seria totalmente contra ela fazer um procedimento numa clínica sem estrutura, de estética, não é uma clínica cirúrgica, não é um hospital (…) A partir do momento que você está numa clínica fazendo um procedimento, seja ele invasivo ou não, tem que se ter uma estrutura para se vier a acontecer um fato como o da Amanda". (Leia mais abaixo)

 

Ela disse acreditar que um erro durante o procedimento levou à morte de Amanda. "Provavelmente, o balão seguiu outro percurso e eles insuflaram o balão. A clínica provavelmente não tem o aparelho de raio-x para ver se o balão estava no lugar correto e, provavelmente, o balão não foi guiado pela câmera endoscópica, porque se tivesse, não teria acontecido. Apesar de estar acima do peso, ela tinha uma saúde boa, tinha uma alimentação boa, o problema dela era hormonal", disse a tia, que revelou ser enfermeira e ter experiência com trabalho em Centro de Terapia Intensiva (CTI).(Leia mais abaixo)


A auxiliar administrativa era casada e deixa três filhas. "Elas estão extremamente abaladas, porque a Amanda era uma mãe incrível, super alegre, fazia a casa dela o melhor ambiente para todos, para as filhas, para o marido. Era uma menina batalhadora, que zelava pela família, pelas filhas e está todo mundo muito abalado". (Leia mais abaixo)


Para a irmã, que também não quis se identificar, a vítima era como uma segunda mãe. "Ela trazia alegria para todo mundo, eu contava tudo da minha vida para ela, eu tinha ela não só como minha amiga, mas como uma mãe, porque ela sempre cuidou de mim. Ela sempre me chamou atenção na hora que precisava, sempre me deu muitos conselhos. Ela era uma menina muito maravilhosa. É muito triste, é revoltante. Como uma clínica que não tem especialidade para essas coisas está aberta? É muito revoltante", lamentou.(Leia mais abaixo)




A tia contou que a clínica ofereceu ajuda financeira para custear o sepultamento, mas a família recusou. "A família está devastada com essa perda, com esse ato inconsequente dos médicos, da clínica. A clínica entrou em contato querendo pagar o enterro e a gente quer deixar bem claro para a clínica que a gente não precisa de um centavo deles, a gente não precisa de dinheiro. A gente só precisa de justiça por um erro tão grotesco que aconteceu com a Amanda". (Leia mais abaixo)


Segundo a 72ª DP (São Gonçalo), os agentes realizaram perícia no local e também vão periciar o corpo da vítima. Até o momento, já prestaram depoimento a médica, a anestesista e a equipe responsável pelo procedimento, além do marido de Amanda. As informações iniciais indicam que a médica atuava regularmente, mas a delegacia vai acionar o Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj) para confirmar se a profissional estava habilitada para o procedimento.



A proprietária também foi ouvida e a documentação do estabelecimento analisada. O Cremerj informou que soube do caso pela imprensa e que vai apurar os fatos. A Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil de São Gonçalo informou que não havia irregularidades na parte estrutural e que a clínica solicitou a revalidação da Licença de Funcionamento Sanitário da Vigilância Sanitária Municipal em dezembro de 2024, mas que ainda faltam documentos a serem apresentados.



"Fiscais da Vigilância Sanitária Municipal estiveram na unidade no último dia 17 de dezembro e constataram a falta de alguns documentos e deram prazo até o dia 17 de janeiro para as adequações". 


Em nota, a defesa da Clínica Endocorpus disse que "está prestando toda a assistência necessária à família, oferecendo apoio e cuidados durante esse momento delicado" e que "tem colaborado ativamente com as autoridades competentes, prestando os devidos depoimentos na sede policial, para que a apuração dos fatos se dê de forma justa e transparente".

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A advogada Fabiane Ximenes afirmou também que a clínica "reitera seu compromisso com a ética, a segurança e o bem-estar de todos os seus pacientes, e seguirá acompanhando as investigações para que todas as circunstâncias sejam devidamente esclarecidas". 


Até o momento, não há informações sobre o sepultamente da vítima. "A família espera justiça, que a clínica se responsabilize pela morte da Amanda. E não é se responsabilizar financeiramente, não. É se responsabilizar pelo fato ocorrido, para que não aconteça com outras famílias, porque o dinheiro não vai trazer a Amanda de volta. A clínica, a médica, a equipe médica, precisam ser punidas", desabafou a tia.